quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um poema em troca de sangue e lágrimas

Bem, o poema escrito abaixo foi escrito por Stephanie Gomes...
Isso mesmo, a vampira de "Os Jovens Profanos".
Se já tiveram a oportunidade de ler o conto, temo que quase nada possa ser revelado
sobre esta intrigante personagem do Recitara.
Antes que me perguntem, sim. Ela realmente existe.
Uma linda criatura devoradora de almas que fez, e faz, parte da minha vida.
Em breve, veja também a nova coreografia dos zumbis de "A Fome dos Ressucitados", o clipe da nova música do "Fantasma das Quatro Horas" e um vídeo de culinária de "Tony, o padeiro".

Até lá...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Poema : "O Meu Tormento"

Por : Stephanie Gomes

Não negue que ainda pensa em mim,
Mesmo eu sendo um insulto a sua aparente pureza
e a imagem de homem perfeito que construiu.
Não negue que minha presença te perturba, te seduz, te transforma.
É visível sua inquietação.

Não é verdade que acorda no meio da noite desejando ardentemente os meus beijos?
Que seu corpo estremece ao pensar na minha pele fria?
Não negue que faço parte das suas fantasias, das suas perversões,
E até dos seus mais secretos pesadelos,
Aqueles que te assombram, que não deveriam estar ali,
Mas que você não consegue esquecer...

Sou o seu vício, você luta, até tenta se abster,
Mas precisa de mim para dar um sentido a sua vida patética.

Porque tanto esforço?
Deixe sua alma se unir a minha,
Deixe seus instintos falarem mais alto
Deixe seu corpo encontrar a felicidade através do meu.
Apenas se entregue...ao meu tormento...

Conto : "Tony, o padeiro"


   Parte Três

   À noite, o homem já tinha ido embora e Tony assistia as fitas de segurança novamente.
  
   - Jesus! São apenas crianças! Espero saber o que estou fazendo.

   Nessa minuciosa busca por pistas, descobriu algo nas imagens que não tinha notado antes.
   Por uma das janelas da loja de conveniência era possível  ver o carro deles. Ampliando certos pontos do vídeo até a placa tornou-se visível.
   Tony, como era de costume, fechou as portas da padaria às oito da noite.
   O padeiro , na hora de se armar para uma caçada, era sempre o mesmo. Nunca mudava o seu arsenal, por mais alternativas que tivesse à disposição. Olhava ao redor, admirando sua vasta coleção de armas, depois ignorava todas elas e apenas se armava de arco e flecha.
   O seu velho arco, causador de muitas feridas entre aquela raça odiada. Os malditos vampiros. Era como se a mão do próprio Deus guiasse as flechas daquele arco.

   - Apenas crianças. Que Deus me perdoe.

   Tony lembrou-se imediatamente de seu sobrinho.
   Pobre Jonas, se matou ao terminar com a namorada.* Ver alguém tão novo morrendo tragicamente era a pior coisa do mundo para o velho padeiro. Mas o negócio ia mau e ele precisava pagar as contas do mês. Aliás, estes jovens não seriam os primeiros. Talvez até seus pais já tivessem sido mortos por ele. Isso não era difícil de acontecer.
   Maldito seja o padre Lúcio! Sabia que ele não poderia recusar a proposta do dono do posto. Sabia que o padeiro já estava no vermelho havia muito Tempo.
   Tony, antes de sair, fez as suas orações. Pedia perdão adiantado pelas mortes que causaria. Pelo sangue que seria derramado no decorrer da semana. E pelo juramento que estava prestes a quebrar.
   Cinco cabeças, dez mil em dinheiro vivo.
   Era um ótimo argumento.
   Tony, o padeiro, apagou as luzes e saiu para à noite. Estava entrando de novo em seu velho mundo.
      
   * Ler o conto "Prova de Amor"   

Continua...

Conto : "Tony, o padeiro"


   Parte dois

   Os homens conversaram, e o assunto era um tanto incomum.

   - Os malditos vampiros atacaram o meu posto de gasolina.* Tenho as fitas da segurança.

   - Isto é ótimo. Podemos vê-las, por favor?

   As cenas do vídeo eram puro terror. Os vampiros demonstravam todo o seu prazer ao verem o sofrimento das  vítimas. O pobre dono do posto já tinha assistido aquelas fitas inúmeras vezes, mas em todas elas sentiu náuseas por causa do conteúdo daquelas imagens.
   O padeiro nada sentia. Apenas assistia ao restante daquela bagunça. O homem iniciou seu relato :

   - Quando cheguei no meu posto haviam várias pessoas mortas. Meus funcionários e alguns clientes que ali estavam. Ao ver o conteúdo destas fitas, não soube o que fazer. Então pensei em procurar um padre. Fui até a igreja do meu bairro e falei com o padre de lá. Ele, por sua vez, me mandou vir procurar pelo padre Lúcio na igreja da Aldeia de Carapicuíba. E foi ele quem me indicou os seus serviços.

   - Entendi. Então, até mesmo estando longe, o velho Lúcio me arruma encrenca. Mais alguém viu estas fitas?

   - Ainda não. Achei que a polícia não iria ajudar muito. Procurei o padre antes.

   - Fez muito bem. Eu ficarei com elas, se não se importa.

   Enquanto entregava as fitas para o padeiro, o homem observava o vasto arsenal nas paredes do escritório. Tinha de tudo, desde punhais e adagas até granadas e sub-metralhadoras.

   - Por que você parou? Por que deixou de caçá-los?

   - Contar-lhe sobre o meu passado não faz parte do trabalho. Você apenas me paga, assim que eu terminar o serviço. Depois disso, espero nunca mais vê-lo de novo.

   - Quanto pagarei por seu trabalho?

   - Cobro dois mil, por cabeça. Se quiser até te trago elas.

   - Me traz o quê?

   - As cabeças, homem! Agora vamos descer. Deixei a padaria aberta e não quero ninguém roubando os meus pães.

* Ler o conto "Os Jovens Profanos"

Fim da Parte Dois
 

Conto : "Tony, o padeiro"


   Primeira parte

   A padaria abriu as portas cedo, como sempre.
   Pouco movimento. Apenas algumas moscas, que já eram "de casa", passeavam por lá.
   Antônio, o proprietário, sentia falta da antiga clientela, que vinha todas as manhãs à procura dos mais variados pães, doces ou leites A, B ou C. O negócio andava mau.
   Mas naquela manhã, Tony, o padeiro, sairía completamente da atual rotina monótona.
   Por volta das onze, entrou em seu estabelecimento um homem trajando roupas sociais. Aparentava uns quarenta anos e seu rosto trazia uma expressão aflita. Os dois se olharam por um momento. O silêncio foi quebrado.

   - Posso ajudá-lo? - perguntou o padeiro

   - Vou querer um cachorro-quente com salsichas portuguesas, por favor.

   Antônio fitava o homem, e ficou triste com a escolha daquele novo freguês.

   - Oh! Siga-me, por favor.

   Os dois homens atravessaram um estreito corredor, encontrando no fim uma velha escada de madeira. Subiram, chegando assim, ao escritório da padaria. Antônio já não trazia mais aquela expressão serena no rosto. Parecia estar incomodado com aquela visita inesperada.
   Sentou-se na cadeira de estofado corroído pelo tempo e pela falta de uso. De trás da mesa de madeira prensada, apontou para um assento similar ao seu e convidou o homem a sentar-se.

   - Alguém te mandou vir até aqui? - não tirava os olhos do homem.

   - Não, senhor. Fiquei sabendo do seu trabalho através de um amigo de confiança, um antigo parceiro teu. O padre Lúcio.

   - Oh, meu Deus! Então o assunto deve ser mesmo muito grave! - espantou-se o padeiro que, há tempos, não ouvia aquele nome.

   - Com certeza. Sei que vocês dois trabalharam juntos por um tempo. Por quê se separaram?

   - Oh, o ramo do padre é outro. Mas o que te traz aqui, afinal?

   - Vampiros, senhor. Simples vampiros.

   - Simples, você diz. Bem, faz tempo que não saio para caçar. Mas diga-me o que houve e, por favor, não seja modesto quanto aos detalhes.

   Fim da Parte Um

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Conto : "O Fantasma das Quatro Horas"


     Parte Três

   - Mamãe? O que houve?

   - Oh, minha filha. Eu tive um sonho muito estranho.

   - Acho melhor a senhora ir se vestir, antes que Pedro acorde.

   Marta precisava de um banho. Acordou suada e com muito calor. Será que havia sonhado com Fernando? Talvez, mas não se lembrava de nada. Voltou para o quarto e trocou de roupa. Precisava acordar Pedro para levá-lo à escola. Abriu a porta do quarto do filho dizendo :

   - Vamos Pedro! Hora de levantar, querido!

   Seguiu para a janela, abriu as cortinas para que a luz do sol pudesse entrar.

   - Vamos, garotão! Vai se atrasar para a escola.

   Nada. Nenhum movimento.
   Marta tocou a pele da criança que estava fria demais. Os médicos disseram mais tarde que o coração de Pedro simplesmente parou de bater, assim como aconteceu com o pai. Talvez fosse um mal hereditário, disseram eles. Mas Marta sabia que não era nada disso.
   Ela não sabia bem o que era, mas havia algo de errado com aquela casa. Com aquele relógio. Sim, era ele. Trazia o horror e a morte às quatro horas da madrugada. Precisava ser destruído antes que a matasse ou ferisse sua filha. Fogo. Iria queimar o maldito relógio.
   Após o funeral do filho, Marta voltou pra casa amaldiçoada para pôr um fim, de uma vez por todas, na fantasma das quatro horas.
   Ela e Sofia levaram o relógio para a garagem e atearam fogo nele. De repente, um grito de dor foi ouvido, e as labaredas cresceram mais do que deviam. Logo, toda a garagem estava em chamas.

   - Sofia, temos que sair daqui! Rápido!

   Tentaram, mas o portão estava emperrado, não conseguiam abrir. Afumaça encheu seus pulmões e seus olhos lacrimejavam. Seus gritos de dor e desespero não foram ouvidos. O cheiro da carne queimada capaz de enjoar o estomago mais forte. Nada mais podia ser feito.
   Naquele dia, as duas morreram junto com a maldiçao do relógio. Mas ele vivia.
   O fantasma das quatro horas vivia ainda. E com a maldição do relógio quebrada, estava livre novamente.

   Continua...

Conto : "A Morte no Batom Vermelho"


   Parte Três

   Marcos fechou a boca do velho com fita adesiva. Queria evitar uma nova gritaria.
   O arco de serra em sua mão brincava com a vítima. Cortava-lhe os cinco dedos de uma vez.
   Seus gritos agora eram abafados e sua dor era um segredo entre ele e o mecânico. Sabia que acabaria morrendo, só esperava que fosse mais rápido.

   - Agora tenho todos os seus dedos e poderia fazer um colar com eles, não é?

   Não suportando a dor, o velho teve um desmaio. Inconsciente, ficou seguro. Estava livre do terror, por enquanto. Mesmo que por um breve momento, esteve em paz. Mas ao acordar viu-se numa situação ainda pior.

   - Olha quem acordou! Mas você está ótimo! - disse-lhe Marcos, todo contente - Eu estava te esperando para lhe mostrar algo. Pode ver ?

   Ao abrir os olhos, o velho teve a pior visão de sua vida. Suas pernas já não faziam mais parte do seu corpo. Foram serradas enquanto ele estava desmaiado. A dor veio um Tempo depois, mas não era maior que o choque daquela sinistra visão.

   - M...Maldito...- gaguejou o velho depois que Marcos lhe tirou a fita da boca - O que pretende fazer comigo? Já teve a sua compensação! Será que isso já não é o bastante? Me deixe viver!

   - Não posso, meu amigo. Ficaria desapontado se tudo o que eu pensei em fazer contigo não rolasse.

   Marcos cutucava a perna do velho com o dedo, à cerca de dois metros do dono. Continuou :

   - E eu pensei nisso tudo em tão pouco Tempo. Acha que me saí bem? O que acha? Faria o mesmo que eu nessa situação?

   - Louco... por Deus, você está louco!!!

   - Sim, velho. E o azar é todo seu.

   Marcos manteve o velho vivo enquanto o esquartejava. Primeiro foram os braços, serrados em três pedaços, cada um. E o velho ainda vivia, quase sufocado pela nova remessa de fita adesiva em sua boca. Com isso, Marcos impedia que o velho gritasse, mas os funcionários do motel já haviam escutado o suficiente para chamarem a polícia. Logo, todo o edifício estava cercado e os demais casais tiveram o seu prazer interrompido.
   Os policiais entraram no quarto, onde Marcos acabava de sair do banho, ainda enrolado nas toalhas. As cabeças das vítimas estavam sobre a cama e o resto dos corpos foi mutilado e espalhado pelo quarto inteiro.
   Ao ser detido, Marcos não disse uma só palavra que indicasse arrependimento. Há quem diga que o velho foi o último a ouvir a sua voz. Embora não falasse, seu rosto trazia a mais clara expressão de prazer. O seu sorriso falava por ele.
   E até hoje, na rua dos Rosais, as más línguas comentam o caso da morte no Batom Vermelho.

                                                                                                          Fim
  

Conto : "A Fome dos Ressucitados"


            Parte Três

            Carapicuíba, 6 de Setembro de 2.002.

            Agora, Malaquias era um deles. Não pensava e nem mesmo respirava. Só queria comer.
            Entre os vivos e desesperados, havia uma senhora com a neta nos braços. O cheiro da carne fresca guia Malaquias até sua presa. A criança. A pobre e indefesa criança.
            Ele a arrancou dos braços da avó e preparava-se para dar a primeira mordida quando seu cerebro foi atingido pelo poder de fogo e calor de uma bala certeira. Malaquias caiu no chão.
            Não estava vivo, não estava morto, e não mais se mexia.

            - Pegamos mais um, Sargento! - disse o Cabo Pereira enquanto resgatava a garotinha.
            - Venha, depressa! Entre no carro! - responde o Sargento Mello.

            Os dois oficiais do exército, até o momento, haviam resgatado três pessoas, contando com a menina. Estavam todos no banco de trás, com muito medo dos mortos-vivos. Cabo Pereira estava apreensivo.

            - Isso não vai acabar nunca? Até quando teremos que ver os mortos voltando a vida?
            - Não importa o tempo que isso dure, o importante é o que podemos fazer até que isso acabe. Não podemos ignorar a existência de sobreviventes, mesmo que não possamos fazer muito a respeito. - respondeu o Sargento.

            - Pra onde a gente vai levar essas pessoas? Não há lugares seguros, Sargento!
            - Vamos levá-los até o posto policial. Fica aqui perto. De lá, pediremos reforços. O que me preocupa é este seu ferimento na perna. Tem certeza de que está bem?
            - É claro que sim, Sargento! Não vou me tornar uma dessas coisas aí fora!
            - Espero que não, rapaz. Espero que não.

            Ao chegarem no posto, encontraram-no com as luzes apagadas. Parecia que não tinha ninguém ali.

            - Vamos entrar! - ordenou o Sargento.   

            A porta estava trancada por dentro, foi preciso empregar a força para abri-la.
            Lá dentro, silêncio e surpresa. A policial, jovem e precavida, escondeu-se embaixo do gabinete. Estava em posição de defesa. Saiu rapidamente de seu esconderijo com a pistola empunhada, apontando para os recém chegados. Mas, vendo que eles não eram os inimigos, desculpou-se de imediato.

            - Pensei que fossem os monstros, me ajudem! Por favor, eu estou com muito medo!

            - Mantenha a calma, soldado! - respondeu o Sargento.

            As palavras, agora, só ecoavam na cabeça do Cabo Pereira. Seu corpo estava esquisito, parecia estar mais pesado. E uma fome inexplicável. Já estava fora de si quando agarrou o Sargento Mello pela farda e comeu a sua orelha. Os demais sobreviventes fizeram tudo para viverem o máximo possível. No entanto, a fome do soldado era maior do que seus esforços. Um à um, todos foram devorados. Mas ainda haveria mais carne para saciar a fome do soldado, pois o dia só estava nascendo.
           
           
          Continua...

Conto : "O Fantasma das Quatro Horas"


     Segunda Parte

   - Mamãe, pra onde o papai foi? - perguntaria Pedro, na semana seguinte, durante o café.

   - Papai foi levado pelos anjos, querido.

   - E porquê os anjos não me levaram também, mamãe?

   - Não diga isso, querido! Oh meu Deus!

   O comportamento de todos estava diferente. Ainda não haviam se adaptado à vida sem o pai e marido. Marta já não dormia direito havia duas semanas, muito antes da morte de Fernando.
   Ela estava no seu limite e tudo o que ouvia era o tic-tac infernal daquele relógio.
   Durante uma das noites de insônia, Marta ouviu passos na escada. Levantou-se lentamente de sua cama, com medo de um possível ladrão. Caminhou até a beira da escada, daonde pôde ver seu filho Pedro, no andar de baixo, em frente ao relógio.

   - Pedro? O que está fazendo, querido?

   O garoto parecia não ouvi-la. Apenas fitava o relógio. Marta, confusa, desceu as escadas em direção ao filho.

   - Pedro, você pode me ouvir, querido?

   O menino virou-se para a mãe e disse :

   - Eu o vi, mamãe.

   - Quem? Do que está falando, meu bem?

   - Eu vi o anjo que levou o papai.

   - Oh, meu Deus. Você deve ter tido um sonho. - respondeu a mãe, abraçando o filho - Venha, vamos dormir.

   De relance, Marta olhou para o relógio. Eram três e cinquenta e cinco. Logo, ficou apreensiva.
   Em cinco minutos, começaria novamente o badalar do relógio. Após deixar seu filho no quarto, Marta desceu novamente as escadas e foi para a cozinha. Estava com sede.
   Encheu um copo com àgua mas antes de levá-lo à boca, o relógio iniciou o seu canto medonho. Eram quatro horas.
   Marta, assustada, largou o copo que logo se estilhaçou ao tocar o chão.

   - Oh, como sou desastrada!

   Depois de limpar aquela bagunça, Marta retornava para o seu quarto quando levou outro susto. Na sala, em frente à janela, havia alguém. Suas roupas pareciam bem velhas e gastas e sua pele era branca como um véu de noiva. Marta estava apavorada, mas não pôde deixar de reparar como ele era belo.
   Quem era ele. O que queria.
   O misterioso visitante voltou-se para ela. A viúva, ao encarar o fantasma, sentiu-se irremediavelmente fraca.       Desmaiou.
   Sofia foi a primeira a descer as escadas no dia seguinte. E, na sala, sua mãe dormia nua, sobre o tapete.

   Fim da Segunda Parte


  

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Conto : "A Morte no Batom Vermelho"

Parte Dois

Ao entrar na recepção, logo Marcos foi atendido pelo funcionário do motel..

- Posso ajudar? Senhor...
- Carvalho! Marcos Carvalho.
- E o senhor precisa de um quarto? Vejo que não está acompanhado.
- Estou esperando minha mulher. Ela deve chegar logo. Vou esperá-la no quarto. Por favor.
- Tudo bem. Mas o senhor precisa assinar o livro de hóspedes.

Marcos, ao assinar o livro, pôde ver o nome da esposa e o de seu amante. Como eram burros, os dois. Agora sabia exatamente o quarto em que estavam. Pior pra eles.
Ao descobrir que sua mulher o traía, o bom mecânico deixara de lado a sua humanidade e mergulhara em um mundo onde só havia a raiva e a Vingança.
Quarto número 13, coincidência, talvez.
Jesus! A porta nem estava trancada! Estariam assim tão despreocupados. Esta seria uma tarefa muito fácil para uma recompensa tão grande. O doce sabor amargo de Vingança entre os dentes. Era isso.
Entrou no quarto, onde a esposa acabava de sair do banho.

- M...Marcos??? - assustou-se ela.
- Olá, querida! - Marcos não pôde deixar de esboçar um sorriso.
- M...Mas, o que faz aqui?
- Oh, você não poderia me perguntar isso, não é?

O velhote estava deitado, e deitado ficou.

- Que merda é essa? Quem é esse cara?
- Sou o ex-marido dela, mas serei viúvo em breve - disse Marcos, ainda sorrindo - Mas primeiro cuidarei de você. Guardei o melhor pra você. E estou muito ansioso pra começar.

Ao partir pra cima do velho, a vagabunda começou a gritar. Isso irritava Marcos, o mecânico. Entre suas ferramentas, escolheu uma comprida chave de fenda. Largou o pobre velho na cama e foi calar a mulher. Então, apertando-lhe o pescoço, a levantou a dois palmos do chão e enfiou-lhe a chave na garganta com tanta força que a ponta da ferramenta fixou-se na parede mantendo-a suspensa através do ferimento que sangrava copiosamente. A dois palmos do chão. Virou-se novamente para o velho e disse sorrindo enquanto adimirava o sangue nas mãos :

- Agora ela não vai mais gritar, não é? Mas vamos ao que interessa. Sabe, eu acho que a verdadeira culpada disso tudo foi ela. E agora tenho ela pregada na parede. Eu não preciso matar você também, mas você me deve uma compensação, não é? Afinal, você comeu minha mulher e que Deus a tenha. Vou querer apenas um dedo seu como compensação. Ah, mas se você gritar enquanto eu estiver cortando-lhe o dedo, eu ficarei muito irritado com você!

Marcos pegou o velho à força e o pôs sobre uma cadeira. Procurou na bolsa pelo alicate. Ao ver o novo "brinquedo" do mecânico, o velho desmoronou em apêlos.

- Pelo amor de Deus, homem! Não faça isso comigo! Eu nem sabia que ela era casada! Mas, veja, posso te dar muito dinheiro, não seja bobo. Acha mesmo que a polícia vai te deixar escapar depois disso tudo? Está louco?

- Quem disse pra você que eu quero sair limpo? Olhe para a parede, meu chapa, já me sujei até o pescoço. E sujei o pescoço dela também, não foi? Vamos, me dê a sua mão.

A pressão do alicate entre os dedos era enorme, a dor era insuportável, e o grito foi inevitável.

- Ora! Vejo que não quis seguir o meu conselho.- disse o mecânico - Você não ia sofrer muito mas agora eu tô muito puto com você!

Fim da Parte Dois

Conto : "A Fome dos Ressucitados"

Segunda parte

Osasco, 6 de setembro de 2.002.

O carro de Malaquias não era muito confortável.
Não havia ar-condicionado e isso piorava o calor. O cheiro também não era muito agradável. "Mas era melhor do que nada", pensava Cintia.

- O que é aquilo no posto de gasolina? - perguntou Malaquias.
- Parece um... oh, meu Deus! É um corpo em chamas!* Vamos ajudá-lo! Pare o carro!
- Está louca? Não vou parar o carro aqui e nem quero saber o que está acontecendo lá!

Os dois ficaram algum tempo calados. Cada um, reprovando as atitudes do outro.

- Acho que deveríamos, ao menos, informar a polícia.
- Já devem ter feito isso. Agora, esqueça.

Estavam bem próximos ao estacionamento do shopping. Mas ao subirem pela rampa de acesso se depararam com algo terrível. O estacionamento estava cheio de pessoas que pareciam estar brigando. Mais de perto, parecia que estavam se devorando. Alguns deles carregavam pedaços de carne nas mãos. Carne crua. Carne humana. Os que não estavam comendo, lutavam pra sobreviver aos ataques dos predadores, defendendo-se como podiam.

- Mas o que é que está havendo? - Perguntou Malaquias.
- Oh, Malaquias. Vamos sair daqui! Eu estou com medo! Vamos rápido!

Não precisou falar duas vezes, Malaquias engatou a ré e desceu novamente as rampas. A cidade estava no meio de um caos, onde o homem se alimentava de outro homem.
Logo, as ruas da cidade de Osasco encheram-se de zumbis à procura de comida.

- O que vamos fazer? - Cintia perguntou
- Vamos para outra cidade. Se continuarmos por esta avenida, logo estaremos em Carapicuíba. Então, poderemos parar pra usar o telefone.

As ruas de Carapicuíba ainda tinham vida.
As pessoas de lá, provavelmente, ainda não sabiam do terror na cidade vizinha. Mas isso não duraria muito tempo. Logo aqueles malditos seres carnívoros chegariam até lá.
Estacionou o carro em frente ao bar de um senhor japonês. Entrou no bar e perguntou:

- O senhor tem um telefone que eu possa usar?
- Não, mas posso te vender um cartão telefônico. São quatro e cinquenta.
- Bem... obrigado.

Ao voltar para a rua, viu um dos ônibus no terminal acelerar mais do que era permitido naquela àrea, em direção ao seu carro.

- Cintia! Saia do carro! Agora!

A moça não ouviu à tempo. O ônibus quebrou, facilmente, o carro de Malaquias no meio. Cintia morreu na hora.

- Cintia! Não!

Das janelas do ônibus saíam os zumbis famintos. Arrastavam-se pelo chão fazendo horríveis ruídos com suas bocas apodrecidas. Como se tentassem falar, mas já não podessem.
Malaquias ainda tentou lutar, mas foi vencido pelas criaturas. Antes de morrer, pôde ver seus pedaços nas mãos e nas bocas ensanguentadas dos defuntos. Que gosto teria.
A dor logo deu lugar ao vazio. Não sentia mais nada. Apenas fome. Muita fome.

*Ler o conto "Os Jovens Profanos"

Fim da Parte Dois

Conto : "Os Jovens Profanos"

Parte Três

Bruno era o mais ansioso entre eles. Vendo toda aquela enrolação, desabafou :

- Eu é que deveria ter ficado lá fora. Vocês viram como aquele rapaz era bonito? E que braços fortes...

- Cale-se, Bruno - interrompeu Felipe - poupe-me de suas luxúrias. Porque não escolhe logo um deles pra gente começar?

- Bah! Eu nem estou com tanta fome assim. Só preciso de ação.

Eric procurou nos bolsos pelo isqueiro, em seguida, acendeu um cigarro.

- Perdão, senhor. Mas não pode fumar aqui dentro. Por causa da lei nova...

- Oh, não se preocupe. Eu já ia apagá-lo.

Eric agarrou o atendente pelo pescoço e o fez passar por cima do balcão. Apagou o cigarro no olho do rapaz, que gritou num misto de dor e desespero. O vampiro cravou suas presas em sua vítima, iniciando o esperado banquete.

- Meu Deus! O que está havendo aqui? - perguntou um dos clientes da loja.

Eric, com a boca e as roupas banhadas em sangue, respondeu :

- Não se encomodem com isso. É apenas um jantar em comemoração ao meu aniversário. Todos vocês estão convidados. Querem cantar o parabéns agora ou vão esperar eu apagar as velinhas?

Bruno puxou pra perto de si um dos clientes e mordeu-lhe o pescoço. Mas não estava satisfeito.

- Maldita seja, Raquel! Sempre fica com os melhores pedaços da festa - parou por um instante e disse - Olhem isso! É uma câmera, pessoal. Estamos sendo filmados, que excitante!

Raquel, do lado de fora, já acabava sua refeição. Tirou a camisa de sua vítima para limpar a boca, tendo muito cuidado para não manchar os bancos do carro.
Dentro da loja, o circo estava armado mas o espetáculo chegava ao fim.

- Vamos embora. Já não há mais o que fazer aqui. - ordenou Eric, o líder.

- Sim, vamos procurar mais diversão - o ânimo de Bruno estava retornando.

Estavam saindo da loja quando ouviram um choro vindo de trás do balcão. Era um homem.
Se escondera ali quando a confusão começou.

- Ora, vejam só! - disse Bruno, agarrando-o pelo braço - Estão servidos?

- Vamos levá-lo pra Raquel. Ela ainda deve estar com fome. - sugeriu Stephanie.

Encontraram a amiga retirando o corpo do funcionário de dentro do carro.

- Trouxemos mais um pra você, minha amiga.

- Ah, eu não quero. Já estou satisfeita - disse isso enquanto lançava um olhar de desdém para Bruno.

- Eu não ligo, piranha. Tenho meus próprios meios de entretenimento.

Bruno pegou a bomba de gasolina e banhou o único sobrevivente da loja com o líquido inflamável

- Me empresta o isqueiro, Eric. Vou acender a sua velinha. Faça um pedido, querido.

Bruno ateou fogo no homem. Este, por sua vez, vendo as chamas consumindo seu corpo, entrou em estado de choque. Tudo o que pôde fazer foi correr e rolar no chão enquanto gritava desesperadamente.
Na estrada, aproximava-se um carro velho. O homem ainda teve esperanças ao ver o veículo chegando mais perto. Tentou acenar para o motorista, mas não lhe deram atenção.*
Então, o pobre homem morreu, negligenciado por irmãos de sua própria espécie.

- Esses humanos são mesmo formidáveis. Até mesmo eu pararia para ajudá-lo se fôssemos iguais. - ironizou Bruno.

- Eles não sabem a sorte que tem. Se eles tivessem parado, teriam um fim semelhante ao deste desgraçado. - disse Eric - Vamos embora. Este lugar perdeu a graça.

*Ler o conto "A Fome dos Ressucitados"

Fim

Conto : "Os Jovens Profanos"

Parte Dois

Os jovens estacionaram o carro em frente ao posto de gasolina. Desceram todos.
Logo, um dos funcionários veio atendê-los.

- Posso ajudar?

- Pode sim. Encha o tanque. - disse-lhe Eric - Vamos até a loja de conveniência.

- Posso ficar aqui? - perguntou Raquel.

- Claro. Mas vai perder toda a diversão. - respondeu Bruno, ansioso.

- Imagina! Posso muito bem me divertir aqui fora.

- Já entendi - falou Eric, olhando para o rapaz do posto - Mas não suje os bancos do meu carro, ou eu te mato, de novo.

Entraram, então, na pequena loja.
Algumas pessoas passeavam entre as prateleiras, despreocupadamente, à procura de guloseimas dos mais variados tipos. E era exatamente assim que aqueles jovens se sentiam. Afinal, estavam com fome.
Bruno, o último a entrar, travou a porta atrás de si. Sorria alegremente, como se estivesse entrando num parque de diversões. Eric foi até o balcão e os demais se espalharam pelo estabelecimento. Felipe e Stephanie observavam à tudo, impacientes.

- Olá, amigo - disse Eric ao atendente - vou querer algumas cervejas e dois maços de cigarro.

- Desculpe, senhor. Mas não vendêmos bebidas alcólicas.

- Que pena! Adoro tomar uma cerveja depois do jantar. Então, eu quero somente os cigarros.

Do lado de fora, Raquel aproximava-se do funcionário.

- Nossa... os seus braços são tão fortes! Posso tocá-los?

- S...Sim, claro. - respondeu o trabalhador.

É claro que o pobre mortal não pôde resistir à tanta beleza em uma só pessoa.
Raquel tinha os olhos da cor da noite, pareciam ter vida própria dentro de suas órbitas. Os lábios salientes, tingidos de vermelho sangue. O corpo de uma deusa, a mente de um demônio.
A garota chegou mais perto do rapaz e suas mãos delicadas tocaram a pele do homem.
Com o rosto bem próximo do corpo dele, fez com que sua língua percorresse aquele braço forte. Sentiu o rapaz estremecendo de prazer.

- A...Acho que a gente não deveria...

Raquel levou o dedo indicador à boca.

- Shh! Não diga nada. Eu posso ler em sua mente que você me deseja.

- Sim. Muito - ele não sabia, mas estava perdido. Eram todos iguais.

- Acho que os meus amigos vão demorar um pouquinho - Raquel sussurava aos ouvidos dele - Podemos entrar no carro, se você quiser, gato.

Este era o jogo dela, e ela estava ganhando.

Fim da Parte Dois

Conto : "Os Jovens Profanos"


   Parte um

   Aquela era uma cena um tanto comum.
   Cinco jovens em um carro, com a vida e a noite pela frente.
  
   - Me dêem mais espaço! Vocês estão me esmagando, seus idiotas! - berrava Bruno, o mais belo entre eles.

   - O que faremos hoje? Tô afim de zoar muito!

   - A gente pensa em alguma coisa. A noite é uma criança, assim como a gente.

   - Huh! Crianças muito travessas, né? - brincou Bruno, com seu sorriso hipnótico - Vamos brincar do quê hoje?

   Aqueles jovens, além da idade, possuíam outras coisas em comum. O desejo de adrenalina e emoção. O senso de humor com um quê de sarcasmo, A sede de sangue.
   Eram todos vampiros, em busca de alimento e diversão.
   As ruas estavam pouco movimentadas. Era uma noite perfeita para eles. Sentiam-se os donos do mundo.

   - Eric, espero que tenha lembrado de encher o tanque. - disse Stephanie.

   - Merda! Sabia que tinha esquecido de alguma coisa. - respondeu Eric, nervoso.

   - Ah, não esquenta - disse Bruno, acalmando o amigo - Tem um posto logo à frente. Enchemos o tanque e brincamos um pouco. O que acham?

   Todos se animaram com a idéia. Fazia muito calor naquela noite e um humano com o corpo quente era pra eles um banquete formidável.

   - Stephie, que livro é este que você está trazendo? - perguntou Raquel.

   - Ah, "Os Sete", do André Vianco. Ele mora aqui em Osasco, sabia? - respondeu a garota.

   - E sobre o quê ele fala?

   - Essa é a melhor parte, querida. É sobre vampiros. A imaginação humana me surpreende muito.

   - Essas histórias são sempre iguais. Imaginem só se todas as pessoas que a gente mordesse se tornassem vampiros como nós. Isso é ridículo.

   - A gente pode visitar o escritor mais tarde! Mas primeiro, vamos encher o tanque.


  Fim da Parte Um

domingo, 2 de maio de 2010

Conto : "A Fome dos Ressucitados"

"O início da saga dos zumbis em Carapicuíba!!!"


Parte Um

Osasco, 6 de Setembro de 2.010.


Cintia voltava da escola depois de um dia como qualquer outro. Ainda pensava na prova que acabara de fazer e tinha certeza de que havia ido mau em química. Não havia dúvida de que ela era ótima aluna, mas suas notas caíram consideravelmente desde que conheceu Malaquias. O típico "maloqueiro do terceiro ano". Era visto por todos como um " monte de problemas" em todos os sentidos da palavra.
Ah, mas o amor não escolhe o terreno. Só baixa o santo.
Então, Cintia caminhava pela calçada, despreocupada, apenas indo pra casa. Parou quando algo na banca de jornais lhe chamou a atenção. Uma notícia de primeira página.
Um assassinato. As vítimas foram encontradas "em pedaços", dizia a reportagem.
Era incrível como os jornais faziam tudo parecer pior do que já era.

- Deus! - pensou Cintia - Que mundo é este?

De acordo com o resto da matéria, a polícia prendera o assassino que nem se deu ao trabalho de fugir. O homem trabalhava como mecânico e descobriu que sua mulher o traía. Então, seguiu o carro do amante dela até um motelzinho barato de Carapicuíba.*
Cintia pensava com seus botões. Que horror, o que leva o ser humano a fazer isso.
Por um momento, Cintia sentiu-se insegura demais para aquele mundo violento em que vivia. Procurou não pensar mais no assunto durante o resto do dia. Mas só conseguiu quando Malaquias ligou.

- Oi, gata. Boa tarde.

- Cínico! - com raiva.

- Ei! O que houve? O que foi que eu fiz desta vez?

- Me deixou esperando na porta da escola. Você disse que me encontraria lá, não foi? Mas deve ter surgido algo mais interessante, não é?

- Olha.... eu esqueci, desculpe.

- Canalha...

- Não exagera, porra.

E Cintia sorriu. Impressionada com o jeito de Malaquias de se dar bem em qualquer situação. Era o tipo de pessoa que conseguia o que queria. Era exatamente isto o que ela mais gostava nele.

- Olha, gata, vamos ao cinema hoje? Prometo compensar pela mancada. Topa?

- Esteja aqui às oito ou eu te mato!

Desligou o telefone e foi pro banho. Já não pensava mais em mortes ou em psicopatas. À noite, precisamente às oito e vinte e cinco, Malaquias chegou.

- Desculpe o atraso. Perdi a hora.

- Tá bom. Vamos logo, não quero voltar muito tarde.


* Ler o conto : "A Morte no Batom Vermelho"


Fim Parte Um

Conto : "O Fantasma das Quatro Horas"

Primeira Parte

A nova casa da família Goulart ainda estava bagunçada por causa da mudança.
Mesmo tendo deixado alguns móveis pra trás, por insistência de Marta, o volume de caixas pelos aposentos era enorme.

- Precisamos comprar alguns móveis novos. - dizia ela.

- Amanhã iremos até o centro da cidade, querida. - respondia Fernando, seu marido.

Sofia, a filha do casal, ficara com o quarto maior enquanto Pedro, seu irmão mais novo, alojou-se no cômodo mais próximo do quarto dos pais.
Durante duas semanas aquela bagunça foi diminuindo e a nova casa já estava quase toda mobiliada. Papéis de parede e móveis sob encomenda.
Os enfeites e utensílios foram adquiridos em antiquários, já que Fernando apresentava certa queda por coisas antigas. Colecionava discos, livros, aparelhos eletrônicos e tudo muito velho e usado. Por esse motivo, a família não estranhou quando, naquela manhã, ele entrou pela sala com aquele relógio esquisito.

- Olhem só isso! Este relógio, no mínimo, deve ser do século passado! E foi quase de graça!!!

Quando o relógio badalou pela primeira vez a reação dos moradores foi um tanto espantosa.
Pedro assustou-se com o barulho e foi refugiar-se nos braços da mãe. O silêncio que veio depois só foi quebrado quando Sofia expressou, sinceramente, a sua opinião.

- Horrível, este relógio! Me arrepiei toda, credo!!!

O relógio estava bem conservado pelo Tempo. Todo trabalhado em madeiras nobres.
Abaixo dos ponteiros, pendia o badalo moldado em prata. A cada hora que se passava, a peça iniciava seu canto triste e essas badaladas eram sempre motivo de susto nos novos inquilinos, que após aquela barulheira fantasmagórica, possuiam apenas sessenta minutos de silêncio antes de nova remessa de terror.

- Fernando, meu bem. Você tem que se livrar disto - dizia Marta, apontando para o relógio.

Mas Fernando não ouvia as lamentações da mulher. Parecia estar sob o encanto do tic-tac constante daquela relíquia. Seu amor pela peça foi tornando-se cada vez maior. Cada vez mais forte. E, constantemente, Marta via seu marido levantar-se da cama, descer as escadas e parar em frente ao relógio, no meio da madrugada. Até que, em certa noite, Fernando desceu por volta das quatro da manhã e não mais voltou para o seu quarto.
No dia seguinte, Marta desceu as escadas para fazer o café, como já era de costume, e viu Fernando deitado no sofá.  Tentou acordá-lo, mais de uma vez, em vão.
Estava morto.


Fim da Primeira Parte

Conto : "A Morte no Batom Vermelho"

Primeira Parte

Tudo corria aparentemente bem na rua dos Rosais. Nada de anormal para excitar
seus moradores que, geralmente, se movimentam mais quando há algum boato para
comentar.
Nenhum ato suspeito, nenhum simples incidente.
Nada passava despercebido para aqueles ávidos olhinhos atrás das janelas e das
cortinas. Mas nem sempre foi assim tão calmo. Como naquela vez em que descobriram que
Mônica, a mulher do mecânico, estava tendo um caso com um corôa podre de rico.
O velho vinha de carro buscá-la durante a tarde, enquanto Marcos, seu marido,
trabalhava na oficina.
Logo, as línguas e bocas da rua dos Rosais, começaram a divulgar o fato.
E, muito antes do que esperavam, Marcos ficou sabendo.
Não podia acreditar no que ouvia. Então era verdade? Mônica estava lhe traindo?
Precisava ter uma prova e talvez conseguisse uma se seguisse a mulher. Conseguir um carro não foi difícil, tinha vários na oficina. Dirigiu mergulhado em pensamentos e parou o carro a duas quadras de sua residência.
Esperou pacientemente a chegada do carro do velho. E se fosse mesmo verdade? O que faria? Ele amava a mulher e trabalhava muito para dar a ela o que merecia. E era isso que recebia em troca?
O carro chegou e dele Marcos viu descer o velhote. Era pele, osso e grana. Muita grana. O carro não era deste país e suas roupas tinham qualidade até mesmo à distância.
Viu Mônica sair de casa e entrar no carro. Ela estava linda como sempre.
Marcos sabia que não tinha sido visto por nenhum dos dois. Esperou até que carro tomasse a dianteira e então, passou a segui-los. Por um momento, não pôde acreditar no que estava fazendo. Afinal, nem sabia o que estava fazendo. Só os seguia.
Logo, o carro do velho deixava a avenida e entrara num velho edifícil.
No alto da construção, havia um nome em neôn, piscando em cores quentes as palavras "Batom Vermelho".
"Então o velho é rico", pensava Marcos,"mas pra comer a minha mulher, qualquer motel barato serve".
Marcos, o mecânico, foi tomado por um enorme desejo de Vingança. Queria matar os dois. Precisava de uma arma. Abriu o porta-malas do carro que dirigia e sorriu de satisfação ao ver ali suas ferramentas de trabalho. Colocou algumas delas dentro de uma bolsa e entrou no motel.

Fim da Parte Um

Conto : Elos

O Tempo sempre foi alguém muito só.
E matava a si mesmo enquanto assistia a morte de todo o resto. Vira o nascimento e a destruição de milhões de mundos, e homens, e deuses. O Tempo nunca teve pressa, pois tinha muito de si mesmo.
Quando o Tempo cansou-se da solidão, porém, correu seus vastos domínios em busca de algo ou alguém que o fizesse companhia. Surgiu então, Esperança. Menina de olhos brilhantes e desejos ainda não realizados. Tempo, de imediato, apaixonou-se por Esperança, sabendo que enquanto ele vivesse, haveria também Esperança. Nada poderia separar os dois.
E viveram assim felizes. Muito felizes.
Esperança se alimentava de Tempo. Aos poucos, devorando frações de Tempo. Este, por sua vez, sentia-se contente em fazer-se necessário dessa forma.
Desta união, nascera Ilusão, deus dos desenganados. O menino possuía os olhos da mãe e a intolerância do pai. E, embora não fosse das melhores companhias, era sempre desejado por todos. Isso apenas alimentava o seu ego. Quando nasceu sua irmã Paciência, Ilusão enganou seus pais e fez-lhes parecer que era seu único filho. Desta forma, Paciência foi esquecida e deixada de lado pela família.
E ela cresceu, tornou-se bela e cheia de ódios e rancores escondidos. Decidida, Paciência gerou Vingança.
Vingança era uma linda garotinha sem pai. Vivia agarrada à Paciência como se esta fosse a única coisa do universo. Sua mãe a alimentava o corpo e a alma. E já crescida, resolveu matar seu tio Ilusão por forçar Paciência ao exílio. Com todo seu ódio, herdado da mãe, Vingança armou seu plano. Sujou as mãos com o sangue de Ilusão, que começou a rir para parecer que não doía o ferimento. Mas não resistiu e morreu.
Tempo e Esperança não acreditavam no que viam. Ilusão, seu filho amado, os abandonara para sempre. Quem ousa cometer tal pecado? Quem era aquela garota atrevida?
Vingança se apresentou, friamente, como a filha de Paciência, a princesa exilada no esquecimento. E preparava-se para atacar os avós, quando chegou Paciência.

”Basta filha minha! Cessa já a tua ira!”- disse a Princesa.

Vingança acalmou-se e se retirou do local.

“Quem é você?”- perguntou o Tempo.

“Sou aquela que deve trazer a morte aos meus pais.”

Paciência esquartejou Esperança, enquanto o Tempo só assistia. Nada podia fazer.
E depois de matar a mãe, Paciência virou-se para o pai e agarrando-lhe pelo pescoço cortou sua garganta.
Tempo morreu e logo Paciência também deixava de existir, afinal, para quê serviria ela se não havia mais Tempo e nem Esperança.
Desta forma, a única sobrevivente foi Vingança, que vagou pelo universo sem Tempo, sem Esperança e sem Paciência.

Fim

O Recitara apresenta :

Hi, galera!!!
Quero apenas explicar a idéia deste blog.
Ele será dividido por textos curtos contendo histórias bizarras
onde o terror estará presente em Carapicuíba e região.
Haverão vampiros, zumbis, lobisomens e tudo o mais que a escuridão puder nos oferecer
como matéria prima.
Espero que ao lerem estas pequenas histórias, sintam o mesmo prazer que eu tive ao escrevê-las.

Agradeço desde já pelo apoio e colaboração de todos os envolvidos neste projeto.
Abraços!

Feito de papél, com régua e caneta.

Onde eu pretendo chegar com este blog?

Depois de pensar muito à respeito, cheguei a uma simples conclusão.
O Recitara será a forma de expressar a forma como vejo este mundo.
Afinal, quem nunca viu um zumbi comendo carne humana na escola?
Os poucos elogios e muitas críticas que já recebi valeram todo o esfôrço gasto até aqui.
Podia parar por aqui, mas não vou.
Estou tão animado para começar o "Teatro" que mau posso esperar !
Só estou tentando provar pra mim mesmo que posso fazer algo legal para os meus amigos.
Algo feito de papel, com régua e caneta!