quinta-feira, 6 de maio de 2010

Conto : "A Fome dos Ressucitados"

Segunda parte

Osasco, 6 de setembro de 2.002.

O carro de Malaquias não era muito confortável.
Não havia ar-condicionado e isso piorava o calor. O cheiro também não era muito agradável. "Mas era melhor do que nada", pensava Cintia.

- O que é aquilo no posto de gasolina? - perguntou Malaquias.
- Parece um... oh, meu Deus! É um corpo em chamas!* Vamos ajudá-lo! Pare o carro!
- Está louca? Não vou parar o carro aqui e nem quero saber o que está acontecendo lá!

Os dois ficaram algum tempo calados. Cada um, reprovando as atitudes do outro.

- Acho que deveríamos, ao menos, informar a polícia.
- Já devem ter feito isso. Agora, esqueça.

Estavam bem próximos ao estacionamento do shopping. Mas ao subirem pela rampa de acesso se depararam com algo terrível. O estacionamento estava cheio de pessoas que pareciam estar brigando. Mais de perto, parecia que estavam se devorando. Alguns deles carregavam pedaços de carne nas mãos. Carne crua. Carne humana. Os que não estavam comendo, lutavam pra sobreviver aos ataques dos predadores, defendendo-se como podiam.

- Mas o que é que está havendo? - Perguntou Malaquias.
- Oh, Malaquias. Vamos sair daqui! Eu estou com medo! Vamos rápido!

Não precisou falar duas vezes, Malaquias engatou a ré e desceu novamente as rampas. A cidade estava no meio de um caos, onde o homem se alimentava de outro homem.
Logo, as ruas da cidade de Osasco encheram-se de zumbis à procura de comida.

- O que vamos fazer? - Cintia perguntou
- Vamos para outra cidade. Se continuarmos por esta avenida, logo estaremos em Carapicuíba. Então, poderemos parar pra usar o telefone.

As ruas de Carapicuíba ainda tinham vida.
As pessoas de lá, provavelmente, ainda não sabiam do terror na cidade vizinha. Mas isso não duraria muito tempo. Logo aqueles malditos seres carnívoros chegariam até lá.
Estacionou o carro em frente ao bar de um senhor japonês. Entrou no bar e perguntou:

- O senhor tem um telefone que eu possa usar?
- Não, mas posso te vender um cartão telefônico. São quatro e cinquenta.
- Bem... obrigado.

Ao voltar para a rua, viu um dos ônibus no terminal acelerar mais do que era permitido naquela àrea, em direção ao seu carro.

- Cintia! Saia do carro! Agora!

A moça não ouviu à tempo. O ônibus quebrou, facilmente, o carro de Malaquias no meio. Cintia morreu na hora.

- Cintia! Não!

Das janelas do ônibus saíam os zumbis famintos. Arrastavam-se pelo chão fazendo horríveis ruídos com suas bocas apodrecidas. Como se tentassem falar, mas já não podessem.
Malaquias ainda tentou lutar, mas foi vencido pelas criaturas. Antes de morrer, pôde ver seus pedaços nas mãos e nas bocas ensanguentadas dos defuntos. Que gosto teria.
A dor logo deu lugar ao vazio. Não sentia mais nada. Apenas fome. Muita fome.

*Ler o conto "Os Jovens Profanos"

Fim da Parte Dois

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