domingo, 2 de maio de 2010

Conto : Elos

O Tempo sempre foi alguém muito só.
E matava a si mesmo enquanto assistia a morte de todo o resto. Vira o nascimento e a destruição de milhões de mundos, e homens, e deuses. O Tempo nunca teve pressa, pois tinha muito de si mesmo.
Quando o Tempo cansou-se da solidão, porém, correu seus vastos domínios em busca de algo ou alguém que o fizesse companhia. Surgiu então, Esperança. Menina de olhos brilhantes e desejos ainda não realizados. Tempo, de imediato, apaixonou-se por Esperança, sabendo que enquanto ele vivesse, haveria também Esperança. Nada poderia separar os dois.
E viveram assim felizes. Muito felizes.
Esperança se alimentava de Tempo. Aos poucos, devorando frações de Tempo. Este, por sua vez, sentia-se contente em fazer-se necessário dessa forma.
Desta união, nascera Ilusão, deus dos desenganados. O menino possuía os olhos da mãe e a intolerância do pai. E, embora não fosse das melhores companhias, era sempre desejado por todos. Isso apenas alimentava o seu ego. Quando nasceu sua irmã Paciência, Ilusão enganou seus pais e fez-lhes parecer que era seu único filho. Desta forma, Paciência foi esquecida e deixada de lado pela família.
E ela cresceu, tornou-se bela e cheia de ódios e rancores escondidos. Decidida, Paciência gerou Vingança.
Vingança era uma linda garotinha sem pai. Vivia agarrada à Paciência como se esta fosse a única coisa do universo. Sua mãe a alimentava o corpo e a alma. E já crescida, resolveu matar seu tio Ilusão por forçar Paciência ao exílio. Com todo seu ódio, herdado da mãe, Vingança armou seu plano. Sujou as mãos com o sangue de Ilusão, que começou a rir para parecer que não doía o ferimento. Mas não resistiu e morreu.
Tempo e Esperança não acreditavam no que viam. Ilusão, seu filho amado, os abandonara para sempre. Quem ousa cometer tal pecado? Quem era aquela garota atrevida?
Vingança se apresentou, friamente, como a filha de Paciência, a princesa exilada no esquecimento. E preparava-se para atacar os avós, quando chegou Paciência.

”Basta filha minha! Cessa já a tua ira!”- disse a Princesa.

Vingança acalmou-se e se retirou do local.

“Quem é você?”- perguntou o Tempo.

“Sou aquela que deve trazer a morte aos meus pais.”

Paciência esquartejou Esperança, enquanto o Tempo só assistia. Nada podia fazer.
E depois de matar a mãe, Paciência virou-se para o pai e agarrando-lhe pelo pescoço cortou sua garganta.
Tempo morreu e logo Paciência também deixava de existir, afinal, para quê serviria ela se não havia mais Tempo e nem Esperança.
Desta forma, a única sobrevivente foi Vingança, que vagou pelo universo sem Tempo, sem Esperança e sem Paciência.

Fim

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