quarta-feira, 12 de maio de 2010

Conto : "O Fantasma das Quatro Horas"


     Segunda Parte

   - Mamãe, pra onde o papai foi? - perguntaria Pedro, na semana seguinte, durante o café.

   - Papai foi levado pelos anjos, querido.

   - E porquê os anjos não me levaram também, mamãe?

   - Não diga isso, querido! Oh meu Deus!

   O comportamento de todos estava diferente. Ainda não haviam se adaptado à vida sem o pai e marido. Marta já não dormia direito havia duas semanas, muito antes da morte de Fernando.
   Ela estava no seu limite e tudo o que ouvia era o tic-tac infernal daquele relógio.
   Durante uma das noites de insônia, Marta ouviu passos na escada. Levantou-se lentamente de sua cama, com medo de um possível ladrão. Caminhou até a beira da escada, daonde pôde ver seu filho Pedro, no andar de baixo, em frente ao relógio.

   - Pedro? O que está fazendo, querido?

   O garoto parecia não ouvi-la. Apenas fitava o relógio. Marta, confusa, desceu as escadas em direção ao filho.

   - Pedro, você pode me ouvir, querido?

   O menino virou-se para a mãe e disse :

   - Eu o vi, mamãe.

   - Quem? Do que está falando, meu bem?

   - Eu vi o anjo que levou o papai.

   - Oh, meu Deus. Você deve ter tido um sonho. - respondeu a mãe, abraçando o filho - Venha, vamos dormir.

   De relance, Marta olhou para o relógio. Eram três e cinquenta e cinco. Logo, ficou apreensiva.
   Em cinco minutos, começaria novamente o badalar do relógio. Após deixar seu filho no quarto, Marta desceu novamente as escadas e foi para a cozinha. Estava com sede.
   Encheu um copo com àgua mas antes de levá-lo à boca, o relógio iniciou o seu canto medonho. Eram quatro horas.
   Marta, assustada, largou o copo que logo se estilhaçou ao tocar o chão.

   - Oh, como sou desastrada!

   Depois de limpar aquela bagunça, Marta retornava para o seu quarto quando levou outro susto. Na sala, em frente à janela, havia alguém. Suas roupas pareciam bem velhas e gastas e sua pele era branca como um véu de noiva. Marta estava apavorada, mas não pôde deixar de reparar como ele era belo.
   Quem era ele. O que queria.
   O misterioso visitante voltou-se para ela. A viúva, ao encarar o fantasma, sentiu-se irremediavelmente fraca.       Desmaiou.
   Sofia foi a primeira a descer as escadas no dia seguinte. E, na sala, sua mãe dormia nua, sobre o tapete.

   Fim da Segunda Parte


  

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