terça-feira, 8 de junho de 2010

Conto : "Mark, o mecânico"

Parte Um



O homem triste olhava pela janela.

Não estava triste por se arrepender de seus pecados afinal, não havia arrependimento algum. Do mesmo modo que a falta da mulher também não era motivo de sua tristeza.

Faziam dois meses que Marcos, o mecânico, havia matado a mulher e seu amante. Era notícia em todo o estado de São Paulo. O que tinha acontecido com o homem? Perdera a cabeça?

Depois do duplo homicídio, Marcos nunca mais falou. Decidiu calar-se para sempre. Apenas ouvia. Ouviu quando a defesa alegou insanidade. Ouviu a sentença dada pelo juíz. Ouviu a porta se fechando às suas costas. Mas havia algo dentro de Marcos. Algo muito ruim. Não só não se arrependeu de matar a mulher como sentia ainda um enorme desejo de sangue. Mas para isso, teria de fugir daquele sanatório mesmo que deixasse uma trilha rubra pelo caminho. Não havia mais tempo e nem paciência. Queria estar livre o mais rápido possível.

As vozes em sua cabeça lhe diziam o que fazer. O mecânico sempre fora um homem teimoso. Não ouvia conselhos de ninguém e fazia apenas o que achava certo. Tornou-se perigoso quando passou a ouvir a si mesmo. As palavras que ouviu no motel ecoavam na sua mente.

"Mate-a" - diziam as vozes.

Conhecia bem os horários daquela prisão. Dentro de quinze minutos, viria a enfermeira com a bandeja de medicamentos.

"Mate-a" - as vozes diziam.

O homem que já não era dono de suas próprias atitudes simplesmente cumpriria as suas ordens e sentiria-se contente com isso. Como o planejado, quinze minutos se passaram antes da porta se abrir. Lá vem ela. Moça bonita, com seus vinte e poucos anos. Loira , cabelos longos e rosto inocente. Lembrava sua ex-esposa.

Ah, mas essas de rosto inocente são, sem dúvida, as mais traiçoeiras. Ela parou ao lado do mecãnico enquanto preparava a injeção. Foi tudo muito rápido. Às vezes, os gritos não chegam à tempo. A jovem sentiu seu braço sendo agarrado, viu o homem tomar-lhe a seringa das mãos e cravá-la em seu pescoço. Não uma, mas quatorze vezes perfurado. Antes mesmo de pensar em gritar a enfermeira já estava morta.





Fim da Parte Um

Nenhum comentário:

Postar um comentário