domingo, 25 de abril de 2010

"O último ato de George Henrique" - Parte Dois

E mais uma vez, todos esperavam ansiosos para assistir a nova peça.

Todas as entradas foram vendidas em tempo recorde e não haveriam lugares vazios aquela noite. O espetáculo foi intitulado como “O último ato” e o próprio George faria o papel principal. Dizia ele ser um personagem muito complexo, o que o impossibilitava de entregar a tarefa a outro ator. A peça era um monólogo em que um ator enlouquecido pelo trabalho em demasia desabafava suas magos ao público.

O diálogo era convincente, os efeitos de som e imagem eram perfeitos. A maquiagem do escritor dava ainda mais ênfase às olheiras adquiridas durante a depressão e a loucura. Trajando roupas folgadas George berrava a plenos pulmões as suas falas :

- Já estou farto dos disfarces, nem sei mais quem eu sou. Resta-me apenas uma solução...

George observava discretamente as feições a sua frente. Conseguira mais uma vez prender a atenção do seu público. Não havia na face da terra uma sensação àquela, tantas vezes vivida.

E foi pensando nisso que o escritor deu andamento ao esperado desfecho. Trouxe para o centro do palco uma cadeira e, subindo nela enrolou uma corda em seu pescoço. As luzes se apagaram como já havia ensaiado, dando ao lugar um aspecto sombrio. Então, luzes vermelhas se ascenderam, iluminando o corpo de George que se debatia sobre a cadeira derrubada. Silêncio na platéia, até que, enfim, cessam os movimentos e restam apenas o corpo inerte, a cadeira derrubada e a corda que ainda estralava com o peso. Daí, o que começou como uma reação de espanto entre os espectadores logo transformou-s numa explosão de aplausos e as cortinas se fecharam. Em meio à multidão, um senhor muito bem trajado, dá a entender que gostou muito do espetáculo.

Com um charuto entre os dentes, aplaudia e gritava :

- Bravo! Bravo! Fiz um excelente negócio! – e foi sumindo entre os demais.

O morto foi retirado do palco e levado por uma ambulância escoltada.

No dia seguinte foi dada a notícia. Era difícil de acreditar que George se matara ali no palco, na frente de todos, enquanto julgavam estar assistindo uma encenação. Mas o fato realmente incompreensível era bem outro. O diabo, naquela noite, assistiu a peça da primeira fila e, dizem as más línguas, que ele adorou o final.

Fim

3 comentários:

  1. Cara, um ótimo conto.
    Você termina de ler a parte 1 e não consegue ficar sem ler a parte 2, de algum jeito ela te segura.
    Achei ela bem elaborada, só faltou o dialogo entre o "Diabo" e o George, Mas isso só nos deixa a imaginar o que rolou nesse "Bate-Papo"
    Parabens André, continua assim que você vai longe.

    ResponderExcluir
  2. eu disse q tinha flatado esse dialogo rsrsrs

    ResponderExcluir
  3. Que orgulho mue amor....sempre soube que você era talentoso.

    ResponderExcluir