domingo, 25 de abril de 2010

Conto : "O último ato de George Henrique" - Parte Um

O teatro da cidade estava lotado como sempre. O público esperava ansioso pelo início do espetáculo. George Henrique, autor da peça, aguardava sentado na primeira fila, imaginando se essa nova criação agradaria à todos. Esse tipo de preocupação era muito comum até mesmo para ele, que já se acostumara com o sucesso. Durante meses a fio, esta nova peça havia sido aguardada, afinal, com o roteiro assinado por George, era garantida a qualidade do enredo.

No final da apresentação, todos aplaudiram de pé, enquanto os atores e atrizes agradeciam a platéia de mãos dadas. Alguns dos presentes emocionaram-se com a história. George apreciava as reações das pessoas enquanto eram tocadas pela sua arte. Mais tarde, atrás das cortinas, todos o parabenizavam :

- Mais uma noite inesquecível, parabéns.

- Muito obrigado, Paula. Ainda acho que faltou algo no desfecho.

- George, como pode ser tão auto-crítico? Esta peça foi ótima.

- Não sei, não me convenceu. Talvez eu faça melhor na próxima.

Mas George andava estranho nos últimos dias e só quem fosse bem próximo do dramaturgo podia perceber. Talvez por isso ninguém havia notado. George não tinha parentes próximos com ele. Sua amada esposa falecera a pouco mais de dois anos. Seus filhos estudavam no exterior. Vivia extremamente só, com suas personagens e fantasias.

Mas, por algum motivo ainda desconhecido, até mesmo sua imaginação o abandonara. Não conseguia dar continuidade ao seu trabalho. Ao pensar em abandonar o teatro e suas histórias, era tomado por enorme desespero. Então, não pensou mais nessa alternativa. Sacou seu bloco de anotações e dirigiu-se ao teatro, onde sentia-se mais à vontade para escrever seus roteiros. George gostava de criar olhando para o palco, assim podia imaginar como ficaria a peça depois de concluída. Porém, por mais que tentasse, nada vinha à sua mente. Era como se sofresse um bloqueio, mal tão temido por seus colegas de profissão. O escritor estava ficando cada vez mais recluso e sombrio. Já não ria, já não se alimentava.

Mas no momento em que seu desespero chegou ao ápice, veio a ajuda inesperada.

- Como posso viver sem meu trabalho? Prefiro a morte. Seria capaz de vender minha alma ao diabo para não acabar assim...

O que George não esperava era que suas súplicas fossem ouvidas. O próprio diabo se fez presente no teatro, os dois conversaram durante muito tempo e fizeram o maldito acordo.

Fim da parte um.

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