segunda-feira, 26 de abril de 2010

Conto : "Roubo de sangue"

Saí do supermercado por volta das onze. Já estava acostumado ao fato de eu sair sempre mais tarde que os demais funcionários. Há cinco anos trabalho nesse mercado. Mostrei serviço eficiente e logo tornei-me o gerente da loja. Salário maior, maiores possibilidades. É claro, minha vida havia mudado do dia para a noite. Não é tão fácil manter-se calmo quando você se torna um alvo fácil para os ladrões. Nunca se sabe realmente o que esperar de um assaltante. Suas verdadeiras intenções, quais são?
Embora sempre houvesse tais interrogações em minha mente, elas de nada serviram naquela noite.
Por volta das onze, saí do supermercado, cheio de sacolas como sempre. Andei em direção ao meu carro, um Pálio verde-metálico. Custara barato para o meu novo salário, pelo menos. Aquele homem surgiu do nada, como se já me esperasse naquele local, e com voz rouca ordenou :

- Não faz barulho! Passa a carteira e o celular! Rápido!

O criminoso trazia consigo uma velha faca de cozinha com o cabo muito sujo. Encostou a lâmina contra o meu pescoço, rendido entreguei meus pertences a ele. Meu aparelho celular e minha carteira, que continha algumas cédulas novas e alguns cartões de crédito. O sujeito ainda levou meu relógio e uma pulseira de ouro, presente da minha mãe.
Olhou-me com desprezo, como se eu fosse o culpado de possuir tantas coisas enquanto ele próprio não tinha nada.
Bem, agora ele tinha. Meus bens agora eram dele. E eu acreditava que tudo havia terminado.
O homem largou meu braço e, em seguida, golpeou-me com sua faca duas vezes. No primeiro golpe, senti o frio metal cortar-me o lado esquerdo do abdôme e bater secamente contra os meus ossos. No segundo, já não sentia mais nada por causa da perda de sangue excessiva. O homem fugiu da cena do crime em instantes, levando o meu sangue em suas mãos e meu dinheiro em seus bolsos. Não sei como, mas me socorreram a tempo levando-me às pressas para a sala de cirurgia. E hoje recordo-me de tudo com muita clareza. E mesmo que o tempo venha apagar minha memória quando eu já estiver bem velho, há algo que sobreviveria em minhas lembranças. O olhar frio daquele homem infeliz enquanto tentava roubar-me a vida.

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